O uso e a demanda de materiais naturais em arquitetura e interiores possibilitou a retomada de sistemas construtivos tradicionais atualizados para o contexto contemporâneo. O que era considerado rústico passou a ser explorado em ambientes mais modernos, logo, a aplicação do material também se sujeita a novas formas de fixação, coloração, orientação (horizontal ou vertical). A madeira é o material dominante quando se trata de sistemas tradicionais e materiais ambientalmente sustentáveis. Contudo, um material que também é usado secularmente, igualmente sustentável e biodegradável, e que tem tido menos destaque, é a palha.
Especialmente em países de clima tropical, a palha é comumente utilizada como cobertura. A maleabilidade construtiva, leveza estrutural e permeabilidade térmica são características que justificam seu uso como fechamento superior. Mesmo assim, a palha pode ser usada como vedação vertical, e a depender do tipo, possui bom desempenho como revestimento de paredes. Como qualquer outro material orgânico, o uso em construção civil de forma padronizada depende da usinagem da matéria-prima para produção em larga escala, algo que ainda falta por parte das indústrias, mas que já se anuncia em alguns (poucos) casos.
A maleabilidade também rende esteiras e objetos diversos, já que pode ser trançada em padrões múltiplos. Isso significa que pode ser vedação, aplicada em biombos e assentos. Graças aos desenhos obtidos nos padrões, os efeitos nos ambientes podem contribuir com a decoração, e enriquecer a textura – tanto tátil quanto visual – do espaço. As tramas podem ser mais abertas ou fechadas, e alguns padrões são há muito conhecidos: quando associado a móveis, a “palhinha” – palha indiana ou tela rattan – é frequentemente usada como elemento vintage, tanto aplicada a sua peça original – uma cadeira dos anos 1950, por exemplo –, como em móveis fabricados contemporaneamente. Desde o modernismo, o padrão foi apropriado como uma das marcas da identidade brasileira, e é usado como linguagem de projeto com esse mesmo preceito atrelado a seu uso.
Curiosamente, os painéis de palha são frequentemente utilizados como forro – o que reforça seu uso como cobertura –, e o uso como revestimento de parede segue aplicado ao exterior das edificações. De qualquer maneira, as telas, esteiras e fardos podem extrapolar suas aplicações usuais, e compor cenografias, ambientes e texturas que transformem os projetos, reforçando uma certa identidade cultural, e distendendo o uso atrelado ao material. Se a madeira frequentemente é defendida pelo desempenho ambiental, pela cor, textura dos veios, aconchego e aquecimento visual no ambiente, a palha cumpre os mesmos requisitos. Portanto, merece seu lugar cativo em arquitetura, e o mesmo afinco para a ampliação de suas aplicações.
Capela de Palha / Kollektiiv
“Ao final de seu ciclo de vida, todos os materiais podem ser substituídos ou reaproveitados e a palha não tratada se decompõe na natureza após sua utilização no pavilhão. O formato final da abóbada do pavilhão demonstra a flexibilidade e o valor da palha como material de construção sustentável. Ao permitir que forças naturais transformem as superfícies, pode-se observar como o pavilhão muda com o tempo.”
Fábrica de Tecidos Al Naseej / Leopold Banchini Architects
“Sombreados por uma leve estrutura de palha (arish), os tecelões de Bahrein costumam cavar um buraco no chão para encaixar suas pernas. Por esta simples ação, o chão foi transformado em uma mesa para tensionar os fios necessários para seu delicado trabalho. Arish é uma técnica de construção tradicional usando as folhas secas das tamareiras e tecendo-as em uma superfície rígida. Como tal, tanto os elementos têxteis quanto a arquitetura que protege os artesãos foram tecidos no local.”
Escola Feldballe / Henning Larsen
“Com o apoio da organização filantrópica dinamarquesa Realdania e em parceria com a EcoCocon, a solução final do projeto é uma estrutura feita com um sistema pioneiro de painéis de palha comprimida, telhado feito exclusivamente de madeira e sistema de ventilação feito de eelgrass - uma alga marinha comum ao longo das praias na maior parte do Hemisfério Norte.”
Sala de Estar da Aldeia Tiangang / SYN Architects
“Além do uso de concreto, o edifício é complementado em todo o seu interior por madeira, tijolos vermelhos, painéis de palha e outros materiais arquitetônicos que evocam associações com a vida no campo. Vale ressaltar que o piso de tijolos vermelhos no nível do chão é colocado apenas na superfície projetada entre os arcos para que o jogo de luz possa ser observado no chão.”
Protótipo Habitacional / Collective Studio
“[…] O objetivo era maximizar o espaço externo coberto para oferecer a bastante necessária proteção contra o sol e a chuva e permitir atividades variadas: a venda de bens, cozinhar, lavar, socializar, dormir.
Uma área menor e fechada foi fornecida para realização de atividades privadas e segurança. Para alcançar isso, os investimentos foram concentrados no telhado, criando o máximo de área e de proteção contra o calor, utilizando palha trançada para isolamento.”
Refúgio do Forte / M100 Arquitetura
“Buscando fomentar as riquezas naturais da região, o escritório buscou trazer materiais simples que agregassem valores afetivos e que ficassem marcados na memória das pessoas que por ali passassem. Com isso, foram utilizados no projeto materiais como: Talisca de Palha de dendê, pedras naturais, tapeçarias de materiais orgânicos, madeira e cerâmicas, elementos abundantes na região.”
Apartamento Vila Madalena / Gui Mattos
“Por fim, em seu ambiente mais intimista, os detalhes para a construção de uma atmosfera acolhedora se refletem desde os armários de rouparia, como no closet que, revestidos com palha natural tingida, enriquecem o ambiente com rusticidade. As cores com mais destaque ficam a cargo do restante dos mobiliários que, ainda calmos, deixam o protagonismo para o que há de vir de quadros e objetos que nascem de histórias.”
Apartamento NHO / VOA Arquitetura
“O andar superior do apartamento é destinado aos ambientes íntimos, principalmente o estúdio de música que foi todo pensado para abrigar os instrumentos, discos e espaço para compor. A estante, também projetada pelo escritório, brinca com espaços vazios e portas em palha natural, fazendo com que o estúdio tenha uma identidade.”
Apartamento Paleta / com/c arquitetura
“O branco volta a ser inserido na bancada da pia em corian e na marcenaria, que chama a atenção pela "palhinha" aplicada. Seguindo o conceito do projeto, os materiais escolhidos para sala buscam criar uma base neutra: tijolos, painel em lambri (que recebe a televisão e o louceiro embutido com uma porta mimetizada) e piso em taco original. A intenção é dar destaque ao mobiliário e adornos que, juntamente com a vegetação externa que penetra o espaço do apartamento pela fachada envidraçada, traz vida e cor para a paleta.”
Museu e Centro de Pesquisas sobre Biodiversidade / Guinée et Potin Architects
“De uma forma muito atual nesse paisagismo, o projeto assume uma identidade forte, reinterpretando uma técnica tradicional de uma forma contemporânea e inovadora, através da adoção de uma envoltória de palha, que cobre totalmente as duas paredes e telhado do edifício.”
Pavilhão de Tijolos e Palha / RØNNOW LETH & GORI + CINARK
“A base do projeto Thatched Brick é uma investigação dos materiais de construção tradicionais argila e junco para desenvolver uma nova forma de construir de maneira mais sustentável. Ao combinar tijolos e palha, obtém-se uma estrutura extremamente robusta que pode ser utilizada em diversos projetos habitacionais de vários andares.”
Loja Cia Marítima Ipanema 73 / Rosenbaum
“As esteiras de palha de carnaúba, produzidas pela Associação de Mulheres Artesãs de Várzea Queimada, no sertão do Piauí, são utilizadas como elemento arquitetônico para a construção das cabines de provadores, que ocupam o volume arquitetônico na extremidade direita do lote. O uso deste material como identidade arquitetônica cria uma relação da marca de apoio ao artesanato da comunidade, que vive do manejo desta palmeira, promovendo um resultado positivo a partir dos recursos da biodiversidade.”
Luisa Restaurante Sushi e Bar / Pitta Arquitetura
“O desenho sinuoso do sushi bar (moldado em concreto com formas de bambu), foi ponto de partida para a criação de dois elementos centrais e muito importantes para a composição do layout do projeto: um banco de marcenaria e uma luminária orgânica de bambu e palha trançada criada especialmente para este projeto. Ambos elementos contrastam com as linhas retas da estrutura do local e formam o salão principal do restaurante.”
“A Recipe to Live” / Masaki Ogasawara, Keisuke Tsukada e Erika Mikami
“Durante os meses de verão, a palha seca dentro de prateleiras transparentes que conformam as paredes e que servem como ‘painéis de proteção térmica’. No inverno, a palha se converte em combustível para a produção de calor através de fermentação microbiana.”